Col do Tourmalet, o Gigante dos Pirineus

O Col Tourmalet, com chegada em 2116m acima do nível do mar, é sem dúvida uma das montanhas mais icônicas do mundo e ainda é a subida favorita do Tour de France. Desde 1910 já são 89 aparições em 110 edições da Grand Boucle.

Apesar de ser a montanha que mais vezes foi escalada no Tour, o Tourmalet recebeu a chegada de uma etapa em apenas 3 ocasiões: 1974 (Jean-Pierre Danguillaume), 2010 (Andy Schleck) e 2019 (Thibaut Pinot).

Se considerar o idioma francês e traduzir o nome Tourmalet, você terá algo do tipo “viagem ruim” (Tour = viagem; Malet = ruim), mas a montanha está situada na região da Gasgonha, onde se fala um dialeto local chamado Gasgão, e a tradução deste dialeto fica algo parecido com “Montanha Distante/Longa”.

As 2 faces

O lado oeste têm início em Luz-Saint Saveur, uma subida de 19.0 km de distância com desnível de 1404 m uma pendente média de 7.4% e máxima de 10.2% próxima ao topo.


O lado leste, que será utilizado este ano, começa em Sainte-Marie-de-Campan, possui17.2 km um ganho vertical de 1268 m com médias de 7.4% e máxima de 12%

Primeira Aparição

O criador do Tour de France Henri Desgrange, acreditava que não era possível a corrida atravessar a montanha, mas seu colega Alphonse Steinés acreditava o contrário e queria provar que Henri estava errado.

A história conta que entre janeiro e maio de 1910 (não se tem precisão da data) Alphonse dirigiu de Paris até Pau, próximo ao pé do Tourmalet para cruzar a montanha. Chegando foi falar com o responsável pelas estradas que zombou dele e disse que era impossível cruzar de bicicleta principalmente pelo fato das estradas serem horríveis. Ele então falou que o L’Auto (jornal que criou e organizava o Tour) pagaria pelas reformas.

Alphonse Steinès o maior responsável por termos Montanhas em Grandes Voltas!

Blanchet pediu 5 mil francos, Alphonse tentou contato com Henri que ofereceu 3 mil (ou 2 mil, ou 1500 ou só 500, outra informação não tão precisa), logo Alphonse prometeu que a estrada estaria em condições até Julho.

Steinès contratou um motorista, passou o Col d’Aspin com certa dificuldade e começou o Tourmalet a partir de St. Marie de Campan,. Os aldeões disseram que era praticamente intransponível, mesmo no verão, em Julho. A 2km (ou 3, ou 4 ou 5, a história sempre é rebuscada) do cume Steinès se deparou com uma barreira de neve e teve de partir a pé até o topo, com o auxílio de um pastor de ovelhas.

Alphonse passou por muitos perrengues, quase perdendo a vida, tendo que ter sido resgatado por um grupo de aventureiros. Ao fim da exploração, Steinès enviou um telegrama (ou fez uma ligação) para Desgrange dizendo que as montanhas eram perfeitamente acessíveis.

Desgrange prontamente adicionou Tourmalet, Aubisque, Peyresourde e Aspin no Tour daquele ano, numa etapa de 326km apelidada pelos jornalistas de Círculo da Morte.

Octave Lapize foi o primeiro a cruzar o Tourmalet, vencer a etapa e consequentemente vencer a geral do Tour (ainda não existia a camisa amarela). A história conta que ao fim do Tourmalet, ao encontrar staffs da organização da prova Lapize berrou a plenos pulmões

“Vocês são assassinos!!!!”

Lapize, o primeiro ciclista a passar no topo do Tourmalet em um Tour de France! Hoje conta com uma estátua no ponto mais alto da subida.

Batalhas Lendárias

1913 – O Garfo. Eugene Cristophe, liderava a prova com 18 minutos de vantagem, quando quebrou o garfo de sua bicicleta. O regulamento previa que todo reparo deveria ser feito pelo próprio ciclista. Então, Eugene desceu carregando sua bicicleta até Saint-Marie de Campan, encontrou um ferreiro e reparou o seu garfo. Eugene conseguiu concluir a prova, mas o sonho de vencê-lá foi embora, ficando com mais de 14h de atraso para o vencedor daquele ano, Philippe Thys.

1969 – O ano mágico de Eddy Merckx. Na etapa com passagem pelo Círculo da Morte (Peyresourde, Aspin, Tourmalet e Aubisque), Eddy já contava com 8 minutos de vantagem para seus concorrentes, em teoria bastava ele seguir rodas, mas o Canibal era muito maior que isso. Então, novamente ele atacou seus rivais, dobrando sua vantagem. Terminando aquele Tour com mais de 17 minutos sobre o 2ºcolocado, Roger Pingeon e 22 sobre o 3º que foi ninguém menos que Raymond Poulidor (avô do Mathieu van der Poel)

1991 – A reviravolta. O tricampeão Greg Lemond parecia encaminhar a sua 4ª vitória, mas o Gigante dos Pirineus provou ser seu calcanhar de Aquiles. No último kilometro do Tourmalet, um jovem espanhol de nome Miguel Induráin largou o favorito e colocou 7 minutos de vantagem. Aquele que seria o primeiro, de cinco, tours de Miguelón.

2010 – Schleck x Contador. Este ano, o Tour subiu esse colosso 2x, mas a ascensão da etapa 17 é a que ficou marcada nos livros e na memória do fã apaixonado por ciclismo. Os últimos 15km da montanha foram palco para um embate épico entre os dois, repleto de ataques e contra-ataques, era a última chance para Schleck tirar a vantagem do espanhol. No fim Andy venceu a etapa, mas Alberto Contador chegou junto com ele e foi campeão geral do Tour naquele ano, título que foi retirado por conta de Clembuterol em uma das amostras antidopagem.