Convidamos o médico ortopedista e especialista em cirurgia de mãos, Dr. Leonardo Barros, para comentar sobre o acidente, lesão e cirurgia do holandês Gijs Leemreize, ocorridos durante a primeira etapa da Vuelta a Burgos 2020
É comum a ocorrência de lesões na mão e no punho durante a prática de esportes. Entretanto, ontem ocorreu uma lesão atipica que chamou a atenção do mundo inteiro.
Durante a 1a etapa da Vuelta a Burgos, na Espanha, a cerca de 50km da chegada, o jovem holandês Gijs Leemreize se envolveu em uma queda e acabou tendo parte de seu dedo anelar amputado. Ao que parece (e segundo informou a imprensa), a lesão foi causada pelo impacto no guard-rail na borda da pista.
Veja o momento do acidente:
As amputações traumáticas de dedo podem acontecer por mecanismo cortante, por avulsão ou esmagamento. Nos casos em que o trauma ocorre por instrumento cortante como faca ou vidro, o prognóstico para o reimplante é melhor. Por esmagamento ou avulsão, os pequenos vasos digitais ficam bastante danificados e o resultado é muito pior. As lesões por serra também são piores que os cortes simples.
Para a realização do reimplante, é necessário que o coto amputado seja acondicionado adequadamente em um saco plástico e que este seja colocado em recipiente com gelo. O coto amputado não deve entrar em contato direto com o gelo, ou pode ocorrer lesão tecidual por geladura. A temperatura menor diminui o metabolismo das células e a necrose tecidual enquanto o coto não é revascularizado. Tem-se como consenso que o coto amputado pode suportar 12h sem resfriamento ou até 24h com resfriamento. Nos casos de macro amputações, em que o coto possui tecido muscular (exemplo: amputação ao nível do braço ou antebraço), o reimplante deve ser feito em até 6h sem resfriamento ou 12h com resfriamento.
Nem todas as amputações traumáticas têm indicação de reimplante. As amputações de um dedo por esmagamento ou avulsão têm resultado muitas vezes pior do que a regularização do coto. Nas amputações do polegar, por outro lado, geralmente deve ser tentado o reimplante, considerando a importância deste dedo para a função da mão.
O reimplante consiste em limpeza das partes, e o cirurgião deve reconectar todas as estruturas, incluindo osso, artérias, veias, tendões extensores e tendões flexores. É uma cirurgia extremamente trabalhosa.
No caso do Gijs Leemreize, o reimplante foi realizado e ele encontra-se em observação pós-operatória. Estamos todos torcendo para que ele possa retornar ao esporte em sua plenitude.
Pra quem gostou do tema e da matéria, da aquela força e segue o Dr. Leonardo Barros, no Instagram