Parece brincadeira, mas o caso aconteceu nos Estados Unidos. O ciclista Carl Groove, de Bristol, Indiana, foi pego na prova do campeonato nacional Master. Sua categoria, de 90 a 94 anos só tinha ele participando e é ali que começam os questionamentos a respeito dessa possível dopagem.
Já se sabe, há tempos, que os atletas fazem uso de substâncias ilícitas para melhorar o desempenho, não iremos entrar aqui na questão ética da atitude, mas isso só seria benéfico no caso de uma disputa com outros oponentes. Esse não foi o caso, ele era o único em sua categoria.
Em segundo lugar, temos a substância que é um metabólito da trembolona, encontrada frequentemente em carnes contaminadas. Segundo o atleta, ele fez uma refeição de 300g de fígado na véspera da prova e isso pode ter elevado os níveis da substância no corpo. Não há qualquer nível de tolerância para essa substância, o exame não perdoa.
O terceiro ponto interessante nesse caso é que o ciclista já havia vencido outra prova na véspera e fez o mesmo exame anti-doping, que não detectou qualquer substância, reforçando a ideia de que a contaminação foi mesmo via alimentação. Percebemos aqui que a ingestão foi acidental, levantando suspeitas de que muitos exames antidoping positivos poderiam ter sido, na verdade, injustiças.
O Brasil passa por uma enxurrada de casos de doping em todos os esportes, no ciclismo não é diferente. O último deles no Pan-Americano de Lima, no Peru, no qual o velocista Kacio de Freitas foi pego. Mas gostaria de levantar um questionamento: quantos exames positivos poderiam ter sido oriundos da mesma fonte que levou nosso ilustre Carl Groove, de 90 anos, ao “doping”, carne contaminada?
Um caso clássico foi o de Alberto Contador, que ficou afastado do ciclismo pelo uso da substância salbutamol, normalmente encontrada em carne contaminada. Quanto o atleta perdeu com isso? Quanto o esporte perdeu?
Se doping é o uso intencional para fins de obter vantagem ilícita sobre seus oponentes, o que diríamos de uma ingestão acidental para vencer uma prova sem concorrentes?
A WADA já tem se pronunciado sobre o assunto e uma reformulação em suas políticas pode ser feita em breve. Segundo o presidente da agência, Travis Tygart, o caso de Groove parte o coração de qualquer pessoa, pois não é um caso típico de vantagem indevida.
Ficam aqui os questionamentos sobre as práticas de tolerância zero ao doping, que muitas vezes pode levar à tolerância zero ao esporte. A indústria da carne ainda funciona nos mesmos moldes e outras indústrias desenvolvem seus ganhos pensando em usuários comuns, não em atletas.
Ao contrário do que o Diretor do COB afirmou recentemente, que os atletas devem “evitar os suplementos”, a indústria dos suplementos tem se modernizado, pois seus usuários finais são justamente os atletas. Ter um suplemento contaminado faria muito mal à marca ou ao produto. Simples assim.
Essa é uma discussão longa e necessária, mas que precisamos ter: quantos casos de doping podem ter sido por “contaminação ambiental”, como a carne contaminada por exemplo?
Saudações ciclísticas e um bom final de semana a todos!