O tradicional Giro d’Itália, que passa pelas montanhas mais duras daquele país e está entre um dos maiores eventos esportivos do mundo, já tem uma lista impressionante de concorrentes ao título geral. São ciclistas de vários países e várias equipes do mais alto nível, que tentarão levar para casa o prêmio milionário e entrar para a história!
1 – Primoz Roglic (LottoNL-Jumbo)
O esloveno Primoz Roglic está dando o que falar. Ele é o grande favorito para esse Giro e não é por menos. O cara está vencendo tudo! Só esse ano o ciclista da Jumbo já acumula vitórias no Tour dos Emirados Árabes, na Tirreno Adriático e agora caminha para vencer o Tour de Romandie, na Suíça. Todas essas voltas no nível WorldTour e contra alguns dos melhores ciclistas que estarão no Giro.
Roglic tem se mostrado um ciclista completo. Capaz de fazer um ótimo crono, ele ainda sobe demais e agora tem vencido etapas contra pequenos grupos no sprint, como fez essa semana em Romandie. Realmente é um ser humano a ser estudado! rs
Em entrevista a um jornal italiano, Roglic se disse um fan do Giro que agora vê o sonho se transformar em realidade. “Tudo tem acontecido de forma bastante rápida para mim no ciclismo, eu não imaginava atingir esse nível de performance, apesar de estar trabalhando muito duro para atingir meus objetivos”, disse o ciclista que tem metido medo em várias equipes, inclusive a Sky, agora renomeada para Team Ineos.
Segundo outro contender, o italiano Vincenzo Nibali, Roglic terá de mostrar seu ciclismo na terceira semana, que é onde a carga de competições e de cansaço afeta a maioria dos ciclistas. “É difícil um ciclista vencer tantas voltas em uma temporada e ainda aguentar um Grand Tour, principalmente na terceira semana”, afirmou Nibali.
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O que percebemos é que Roglic parece não ser um ciclista normal, ele veio do esqui para mostrar que só ciclistas anormais vencem o Giro, principalmente esse Giro d’Itália, com nível altíssimo!
Para nós, do Digital Cycling, a grande questão é a equipe de Roglic, com a recente adição do americano vencedor Sepp Kuss, no lugar de Robert Gesink que se acidentou na Liege-Bastogne-Liege, a equipe de Roglic ainda terá: Antwan Tolhoek, Laurens De Plus, Paul Martens, Tom Leezer, Jos Van Emden e Koen Bouwman, que são bastante jovens e motivados, mas nem de longe podem ter um poder de fogo como a Astana ou a Sky. É esperar para ver!
2 – Egan Bernal (Team Ineos)
Depois de vencer a Paris-Nice com autoridade em março, o colombiano Egan Bernal mostrou que além de ser um ciclista com uma capacidade enorme, ainda sabe bem de estratégia e se posiciona muito bem no pelotão. Digo isso em virtude das etapas com vento lateral que aconteceram na Paris-Nice e nas quais o campeão colombiano de crono estava sempre na dianteira, fazendo um trabalho impressionante com Michal Kwiatkowski e Luke Rowe.
Além disso, ano passado Bernal foi o gregário mais forte na conquista do Tour de France de Geraint Thomas e o colombiano já indica, com um forte time que irá para a Itália, que suas chances são cada vez maiores.
Bernal tem treinado forte na Colômbia, com treinos de montanha que chegaram a 250km e mais de 5mil de altimetria. Em sua conta no Strava é possível constatar tais treinos que são chocantes. Bernal tem treinado com outro colombiano da Sky, Ivan Ramiro Sosa, que fará sua estreia em GTs e estará a serviço de Bernal na conquista do título.
Veja a conta do Strava de Bernal aqui.
3 Miguel Angel Lopez (Astana)
Acidentes e lesões atrapalharam os primeiros anos da carreira de Miguel Angel Lopez e talvez o tenham impedido de realizar seu potencial, mas há uma sensação de que o colombiano poderá atingir a maioridade nas estradas do Giro nesse mês. Possivelmente com uma vitória geral no Giro!
Depois de sair do seu primeiro Grand Tour – a Vuelta 2016 – depois de cinco etapas com um tombo no qual perdeu três dentes e quando se recuperou ele caiu na Colômbia e fraturou a perna! Ele retornou às estradas da Espanha no ano passado para seu primeiro Grand Tour completo e serviu a todos da emoção que o seguiu desde sua vitória do Tour de l’Avenir de 2014. Trabalhando para o líder da Astana, Fabio Aru, Lopez perdeu terreno na primeira metade da volta, mas voltou implacavelmente, com duas vitórias e mais dois pódios. No final ele ficou em 8º na classificação geral, cinco posições e 12 minutos à frente de Aru, que era o líder da equipe.
Lopez tem andado muito em 2019. A vitória no Tour da Colômbia em fevereiro e depois a vitória na disputadíssima Vuelta a Catalunya, ambas em cima de Egan Bernal, mostraram que o pequeno colombiano deve dar muito trabalho no Giro, apesar dos 3 contra-relógios que não são sua especialidade e nos quais Bernal, Dumoulin e Roglic devem colocar tempo.
Pesando 59kg, Lopez, sem dúvida, perderá terreno no contra-relógio – o dano pode ser de até dois minutos para Froome e Dumoulin no estágio 16 -, mas pode recuperar esse tempo nas montanhas. Escrito em sua bike personalizada estão as palavras “É um pássaro? É um avião? Não, é o Superman Lopez ‘. Se ele puder canalizar esse espírito, eliminando os fantasmas da estreia na liderança de um Grand Tour, ele deve correr com a sensação de liberdade, e se repetir a exibição da Vuelta, o Giro será um capítulo determinante em sua carreira. É importante notar também que os Alpes provaram que Astana – com Luis Leon Sanchez, Jan Hirt e Pello Bilbao – terá uma das equipes mais fortes do Giro!
4- Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida)
Vincenzo Nibali é o italiano mais vitorioso em atividade. Com vitórias nos três GTs, ele sempre vem para o Giro em grande forma. Diferente de seus concorrentes, Nibali sempre faz um “approach” até o Giro com menor carga de competições e de resultados. A meta é chegar no pico no Giro e, principalmente, chegar na terceira semana com fôlego para quebrar os concorrentes.
Foi assim no Tour de 2014 e na sua vitória no Giro de 2016, ambas com grandes atuações na terceira semana. No Giro de 2016 a queda do holandês Steven Kruijswijk (LottoNL-Jumbo) se uniu a completa destruição de Valverde e Chaves. O título veio para Nibali de forma incontestável.
Esse ano Nibali teve uma bela atuação no Tour dos Alpes, mas contra a equipe de gregários da Sky. No Giro é provável que ele terá de usar toda sua experiência e talento para brigar contra um pelotão seleto de talentos e sem uma equipe à altura para ajudá-lo.
A Bahrain-Merida tem investido esforços para apoiar Nibali, mas com exceção de Pozzovivo, a equipe terá muita dificuldade de ajudá-lo nas montanhas. Será mais um que precisará se virar sozinho contra Astana e Ineos.
5 – Mikel Landa (Movistar)
Podemos dizer que Landa é um dos ciclistas dessa lista que mais foi criticado nos últimos tempos. Apontado por muitos como um novo grand tour contender espanhol, Landa não conseguiu desempenhar na Movistar o mesmo rendimento que teve na Astana e na Sky.
Esse ano é o último de Landa na Movistar, e tudo indica que Landa irá para a Bahrain-Merida substituir Nibali que irá para a Trek-Segafredo. Contudo, Landa, mesmo com contrato para 2020, ainda tem negócios a tratar com o Giro. Landa gosta muito de correr na Itália e tem uma aptidão natural quando o assunto são as montanhas de altitude. Ali seu talento aflora de forma inacreditável.
A baixa performance de Landa nos cronos será um problema, já que teremos três deles no Giro desse ano. Landa terá de fazer seus famosos ataques de longe para recuperar tempo. É importante que o ciclista da Movistar se mantenha no jogo até a terceira semana, na qual teremos nada menos do que quatro etapas de montanha, sendo duas de alta montanha seguidas.
Se todas as fichas colocadas em Landa nos últimos anos realmente forem recuperadas nesse Giro, é provável que a Movistas chegue em Verona (cidade da grande final do Giro) com mais um título de GT em sua estante.
6 – Bob Jungels (Deceunick/QuickStep)
Bob Jungels talvez seja um contender dessa lista que fez a preparação mais estranha de todas. Competindo nas clássicas Flemish, que são feitas para ciclistas passistas devido ao traçado mais plano e com “pavés”. Jungels fez grandes atuações nessas clássicas, vencendo a Kuurne-Brussels-Kuurne, ele ainda foi terceiro na Dwasr Doors Vlaanderen e quinto na E3 Harelbeke. Provas surreais no quesito dureza e competitividade, mas sem montanhas.
Jungels também venceu uma etapa no Tour da Colombia escapado e fez boas atuações na Paris-Nice. Todavia, Jungels não está nessa lista devido a seus resultados nessa temporada, mas sim por ter andado muito em outros Giros. Na grande volta italiana o luxemburguês se transforma. Sempre chega muito bem preparado e faz belas atuações, nos cronos e nas montanhas briga muito e até já vestiu a camisa rosa.
Jungels terá sua forte equipe belga para auxiliá-lo e é um time que dispensa comentários nos quesitos talento e união. A QuickStep deve levar Jungels para a disputa do título, só resta a ele mesmo responder ao trabalho e às fichas que foram depositadas nele.
7 – Pavel Sivakov (Team Ineos)
Talvez o ciclista mais outsider de nossa lista é um garoto que nunca correu um GT. Pavel Sivakov é um daqueles russos que os fãs de ciclismo se perguntam de onde ele saiu e o que ele comeu para andar tanto. A verdade é que Sivakov é um grande ciclista e foi contratado pela equipe certa para desenvolvê-lo como um novo ciclista russo de grand tours.
Marcado por lesões em 2018, no qual uma tendinite no joelho atrapalhou boa parte de sua temporada, Sivakov voltou com tudo em 2019 e venceu com facilidade o Tour dos Alpes com uma bela apresentação sobre alguns dos ciclistas que estarão no Giro.
Sivakov tem pedigree e gosta muito de competir na Itália. Filho de pai e mãe que foram ciclistas profissionais, o russo tem tudo para ir longe. Seu pai, Alexei Sivakov competiu muitos anos no ciclismo europeu sendo top 10 em etapas do Giro e do Tour de France.
Dentre os resultados mais expressivos de Sivakov, para confirmar sua presença em nossa lista de favoritos, está a vitória em 2017 do Giro Ciclistico della Valle d’Aosta Mont Blanc, considerada uma das voltas mais duras sub-23 do mundo ao lado do Tour de L’Avenir.
8 Simon Yates (Mitchelton-Scott)
Se tem alguém nessa lista que merece vencer o Giro, esse alguém é Simon Yates. Em 2018 ele venceu nada menos do que três etapas e carregou a camisa rosa até a etapa 18 das 21.
Na etapa 19, todavia, Chris Froome resolveu ligar seu “turbo-nitro-v12-tunado” e Yates teve um dia ruim. O resultado foi que o ciclista da Mitchelton-Scott teve uma queda livre na classificação geral depois de ter feito ótimas apresentações nas etapas anteriores, de forma bastante inusitada.
Ano passado, Yates ainda tinha a companhia de Esteban Chaves na liderança da equipe. Os dois deram um show no Vulcão Etna, no qual Yates deixou Chaves vencer, sendo que os dois chegaram com bastante vantagem do restante dos ciclistas.
O ponto que Yates mais melhorou foi o crono e esse ano isso irá auxiliá-lo muito na briga pelo título geral. Com especialistas como Roglic e Dumoulin na briga, o britânico terá o time aussie da Scott auxiliando-o a conquistar esse título que segundo ele mesmo, está entre suas metas na carreira como ciclista.
9 Tom Dumoulin (Sunweb)
Depois de um início de temporada um pouco tímido, esse parece o approach de Dumoulin para o Giro todos os anos: competir pouco no início do ano, fazer treinamento em altitude, refugiado treinando os fundamentos, e então vir com tudo para a Itália. Foi assim em 2017, 2018 e também em 2019.
Para o próprio Dumoulin, o maior desafio será evitar a difícil síndrome do segundo título. Depois de vencer o Giro em 2017, ele tem sido um ciclista mais marcado. Com três cronos na prova, apesar de serem trajetos técnicos e com subidas, ele sempre se sobressai na luta contra o cronômetro. Essas três etapas devem ajudá-lo muito.
“Um bom resultado te dá asas por um momento, mas também as expectativas aumentam e as responsabilidades também”, disse ele em abril. “Minha primavera foi ruim, em parte devido à má sorte, em parte porque eu queria muito ir bem. Eu não estava relaxado e não andava com prazer, eu só tinha olho para o resultado”, disse ele.
Depois de terminar 2018 de forma bastante sólida, com um quarto lugar geral na volta da Alemanha, ele foi prata no TTT e no ITT, e ainda quarto na estrada do mundial. Em 2019, Dumola foi quarto geral na Tirreno-Adriatico e tem tido um desempenho um pouco tímido nos cronos, visivelmente se poupando para o Giro, algo que apenas Nibali, nesta lista, tem feito. Landa também competiu pouco esse ano devido a um acidente na qual ele quebrou a clavícula. Talvez essa carga menor possa ajudar esses três atletas na terceira semana. Lembrem-se disso…
10 – Ilnur Zakarin (Katusha)
Há um bom tempo os russos buscam um novo astro. Nesta lista, Zakarin é o segundo, depois de falarmos da nova sensação de Pavel Sivakov. Zakarin amadureceu e parece ter feito uma preparação conservadora para esse Giro. O melhor resultado dele nessa temporada foi um sétimo lugar na etapa rainha da Volta a Catulunya e um top 10 geral na Paris-Nice. Muito longe dos resultados que um ciclista que briga pelo Giro precisaria ter.
Mas, se olharmos em perpectiva, Zakarin é um ciclista que pode ter feito sua preparação voltada pra uma boa atuação no Giro, conforme citamos acima Dumola, Nibali e Landa. O russo pode estar usando sua experiência pra brigar por um grande resultado no Giro, e finalmente seguir seu compatriota Denis Menchov que venceu a prova em 2009.