Mathieu Van der Poel venceu, em fevereiro desse ano, o seu segundo título mundial de cyclocross. Após perder o mundial em 2018, esse ano ele dominou completamente a prova que aconteceu no início do ano, e não deu chance alguma para seu principal adversário Wout Van Aert, que acabou amargando o terceiro lugar.
Voltando um pouco no tempo para termos exata noção do ciclista único que estamos falando, em julho de 2018, Van der Poel, tornou-se campeão holandês de estrada, batendo, no sprint, Danny van Poppel e pouco depois, em setembro, foi terceiro no mundial de MTB XCO, prova vencida por Nino Schurter e na qual o brasileiro, Henrique Avancini, foi o quarto.
Resumindo: ele é o atual campeão mundial de cyclocross, o atual campeão nacional holandês de estrada e MTB XCO, terceiro colocado no mundial de MTB XCO 2018.
Vale lembrar também que foi campeão mundial júnior de estrada.
Van der Poel é de uma família conhecida no ciclismo. Seu pai Adrie Van der Poel venceu grandes clássicas como Liège-Bastogne-Liège, Tour da Flandres e Amstel Gold Race e seu avô materno, Raymond Poulidor, foi pódio por vários anos do Tour de France, sendo segundo em três oportunidades.
Portanto, muitos conhecem a família e com os resultados alcançados até aqui, muito se aguardava por um teste real nas mais famosas clássicas da Europa.
E tudo começou a acontecer esse ano, quando sua equipe, a Corendon-Circus, subiu para o nível Pro Continental e abriu as portas para a possibilidade de receber convites especiais para algumas das maiores corridas do WorldTour.
Os convites vieram e esse ano a Corendon-Circus participa de algumas clássicas sendo as principais delas o Tour de Flanders, a Gent-Wevelgem e a Amstel Gold Race.
Além dessas, que são do maior nível do ciclismo mundial, a Corendon Circus, também participará de outras provas que também são muito concorridas.
A primeira do ano, aconteceu no dia 20/03 quando a equipe, com sua maior estrela, Van der Poel, largou para a clássica belga, de categoria 1.HC, Danilith Nokere Koerse.
Saiba as diferenças de categorias das provas da UCI:
Provas de 1 dia
UWT
HC
1
2Provas de vários dias (2 a 21 dias)
UWT
HC
1
2Um ‘1’ na frente significa que é uma corrida de um dia e um ‘2’ significa que é uma prova pro etapas.
Significado:
UWT – Provas do calendário World Tour. Presença de todas as equipes World Tour e também de equipes Pró Continentais que recebem convites.
HC – Provas que são abertas às equipes do World Tour e equipes Pró Conti, além de equipes continentais do país onde a corrida é realizada. Também podem participar equipes continentais de outros locais do mundo e que receberem convite.
1 – Presença menor de equipes WT, abertas as equipes Pró Conti, além de equipes Continentais.
2 – Presença de equipes Pró Conti do país que realiza a prova, além de 2 equipes adicionais Pró Conti, e todas as equipes de nível Continental.
Todas as seleções nacionais podem receber convites para disputa das provas nível 1 e 2.
A prova se desenrolou dentro das expectativas, muitos ataques, mas se encaminhou para o sprint final. Van der Poel vinha bem para a disputa, mas acabou se envolvendo em um acidente a poucos metros do final. Levado embora de ambulância, suspeitava-se que perderia algumas provas, principalmente as grandes clássicas que viriam a seguir.
Logo depois veio a boa notícia, o tombo na Danilith Nokere Koerse felizmente não teve maiores consequencias e ele pôde largar para sua segunda clássica na temporada, o conhecido Grand Prix de Denain – Porte du Hainaut, prova de categoria 1.HC que contava com 3 equipes do World Tour: FDJ, Trek e AG2R.
Após uma prova que teve 45 Km/h de média, Van der Poel escapou em uma das seções de pavés e venceu escapado, apenas 4 dias depois de sua queda.
Depois da prova ele parecia não estar tão cansado:
Com essa vitória ele deixava claro que vinha com a mesma vontade das provas de cyclocross para as disputas nas grandes provas da estrada. Não era só aprendizedo, ele vinha para vencer e suas vitórias em anos anteriores em corridas de menor porte não eram mero acaso.
Apesar da vitória, as dúvidas com relação ao que ele poderia fazer quando enfrentasse os melhores ciclistas de clássicas do mundo vinha à tona, principalmente por aparentemente não ter uma equipe capaz de ajuda-lo nos momentos cruciais das grandes clássicas.
A resposta começou a ser dada no dia 31/03 quando ele largou para a Gent-Wevelgem, clássica belga de nível 1.UWT e que contava com algumas das maiores estrelas do World Tour. Van der Poel andou demais, sendo um dos integrantes da grande fuga do dia que saiu logo no início e foi capturada no terço final da prova e na qual estavam Aert, Sagan, Trentin, entre outros…no final, já com o grupo compacto, veio para a disputa do sprint terminando em quarto lugar.
Um ótimo resultado para um ciclista com tão pouca experiência na estrada e que estava desgastado de tanto tempo andando escapado.
Três dias depois ele largou na Dwars door Vlaanderen – A travers la Flandre, outra clássica do maior nível mundial, 1.UWT. Van der Poel atacou, abriu fuga, foi pego pelo grupo dos favoritos, partiu novamente com Bob Jungels (Deceuninck-Quick-Step) e Tiesj Benoot (Lotto-Soudal) e, no final, venceu no sprint.
Incrível! Uma vitória maiúscula, a sua primeira entre os grandes do ciclismo que acabou por tirar a sua maior vantagem para a disputa do Tour de Flanders que viria a seguir: o fator surpresa.
A edição 103 do monumento Ronde van Vlaanderen – Tour des Flandres, foi a primeira clássica monumento que ele disputou. Van der Poel não conhecia algumas subidas como Oude Kwaremont e o famoso Paterberg. Além disso, Flanders possui um final muito difícil, que deveria privilegiar estrelas experientes e com excelentes equipes como Bora e Quick Step, mas ele era já era visto como um dos favoritos devido ao seu incrível desempenho.
Na prova, Van der Poel foi o que se esperava dele, um incansável e que se mostrava como 90% de suas provas estar em excelente forma. Em um descuido, acertou uma guia de calçada e acabou caindo de forma bizonha quando já estava quase parado.
Inicialmente parecia algo mais sério, ficou deitado um pouco, enquanto seus companheiros tentavam agilizar o processo e colocá-lo de volta a prova. Levantou lentamente, montou na bicicleta e lentamente foi voltando ao seu modo racing. Perseguiu sozinho, depois se juntou há um pequeno grupo, respirou e depois apertou o ritmo para novamente figurar no grupo dos favoritos. Parecia inacreditável que ele havia conseguido tirar os quase 1 min de diferença, em um momento em que a prova estava extremamente rápida.
Apesar de tudo, ele se mostrou o mais forte na última passagem pelo Patemberg onde tentou escapar para sair em busca do italiano Alberto Bettiol que ia solo para vencer a prova. Conseguiu abrir um pequeno gap, mas faltou pernas para que conseguisse manter e o grupo acabou neutralizando-o.
No final veio para a disputa do terceiro lugar no sprint do grupo dos favoritos. Terminou com o quarto lugar, logo atrás de Kristoff e na frente de nomes como Greg Van Avermaet, Sagan, Valverde e Oliver Naesen, em sua primeira participação na principal clássica de Flanders.
Histórico o que ele tem feito. Mathieu Van der Poel tem se mostrado o ciclista mais completo que temos visto, não o mais completo no ciclismo de estrada, mas sim o mais completo por competir em três modalidades diferentes e sempre com capacidade física e técnica para disputar com os melhores.
Mathieu Van der Poel está tirando coelhos da cartola e mostrando ser um verdadeiro mágico.
Aqui outra mostra de sua habilidade durante a disputa do Tour de Flanders:
Agora ele dá um tempo nas clássicas e disputa, a partir do dia 9 de abril, da prova de 4 etapas francesa, o Circuit Cycliste Sarthe – Pays de la Loire. Depois, no final do mês, disputa a De Brabantse Pijl e termina sua participação na estrada disputando a clássica holandesa Amstel Gold Race, no dia 21.
Em maio, Van der Poel finalmente volta sua atenção para a Copa do Mundo de MTB XCO que faz parte da sua preparação para seu maior objetivo: a prova olímpica de MTB XCO, em Tóquio, no ano que vem.