Por: Allan Almeida, com adaptação e atualizações de Digital Cycling.
Nairo Quintana: o único ciclista sul-americano vencedor de duas grandes voltas tem apenas 29 anos e acaba de vencer a última etapa (etapa rainha) do Tour Colômbia. Apesar das muitas vitórias e incrível capacidade física, principalmente para grandes escaladas, muitos o consideram carta fora do baralho para vencer o Tour de France. Por quê? O que aconteceu?
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Quintana veio de família humilde e como muitas crianças da Colômbia, por falta de recurso, ia e voltava da escola de bicicleta acostumando seu organismo ao sobe e desce das montanhas comuns naquele país.
Após chamar atenção das equipes européias ao vencer o Tour de l’Avenir em 2010 ele foi contratado pela Movistar para a temporada de 2012. Venceu a Vuelta a Múrcia e Route de Sud, além de uma etapa na Dauphine, logo de cara. Estreou em grandes voltas na Vuelta a España (2012), onde foi gregário do já veterano Alejandro Valverde, que terminou em 2°.
Quintana tem um currículo que dispensa apresentações.
Data de nascimento: 4 de fevereiro de 1990 (29 anos)
Nacionalidade: Colômbia
Peso: 59 kg Altura: 1,67 m
2x vencedor do Tirreno-Adriatico (’17, ’15)
Vencedor do Giro d’Itália (’14)
Vencedor Vuelta a España (’16)
2x vencedor da Vuelta a Burgos (’14, ’13)
Vencedor Tour de Romandie (’16)
Vencedor Volta Ciclista a Catalunya (’16)
Vencedor Vuelta Ciclista al Pais Vasco (’13)
2x vencedor da Route du Sud – la Depeche du Midi (’16, ’12)
Além de vitórias de etapas no Giro d’Itália, Tour de France e Vuelta a España
Em 2013, logo em março, venceu uma etapa da Vuelta a Catalunha e no mês seguinte se tornou campeão da Vuelta ao País Vasco antes de fazer sua estreia no Tour de France. Na época, então com 23 anos, Quintana atacava muito e causava o terror nas etapas de média e principalmente alta montanha. Ele foi subindo posições a cada etapa e acabou terminando seu primeiro Tour de France como melhor jovem e 2° lugar geral, atrás apenas de Chris Froome que vencia seu primeiro dos quatro Tour que venceu.
Veio 2014 e Quintana decidiu correr o Giro ao invés do Tour. Começou mal devido a ter ficado doente pouco antes do começo da prova, mas foi melhorando até que na (controversa) etapa 16 tornou-se líder geral e manteve a camisa rosa até o fim. Era sua primeira grande volta conquistada, sendo sua terceira disputada.
Como era sua ideia inicial, ele foi para a Vuelta a España no mesmo ano (2014). Sua forma era muito boa e sua moral também, mas, após conquistar a liderança geral na etapa 9, ele acabou sofrendo um acidente na décima etapa, um contra relógio. Naquele momento ele fazia um excelente crono mas acabou errando em uma curva e perdendo mais de 4 minutos. Apesar de voltar para a prova, no outro dia, caiu novamente e foi obrigado a abandonar com a clavícula quebrada.
Essa foi a primeira grande rasteira que ele teve desde que começou a correr pela Movistar. Tinha tudo para ganhar aquela Vuelta. Mas acidentes fazem parte do ciclismo e ele teria que esperar.
Já em 2015, venceu a Tirreno Adriático, correu algumas clássicas e foi ao Tour. Sofreu nas primeiras semanas e chegou na terceira semana em segundo lugar, mas a 2’38” atrás do Froome. Prometeu atacar e cumpriu, terminando em segundo, a apenas 1’12” de Froome e novamente líder entre os jovens.
Correu a Vuelta 2015 também, mas começou adoecido e cogitou abandonar, se recuperou e acabou em 4° lugar. Não estava no pódio, mas mostrou um imenso poder de recuperação e confirmou que era um dos principais corredores de grandes voltas do mundo.
Então, em 2016, o plano era: Tour, Olimpíadas e Vuelta.
Outra vez doente no Tour, terminou em 3°. Desistiu das Olimpíadas no Rio para se preparar melhor para a Vuelta, mas Froome, então tricampeão do Tour, prata no ITT na Rio 2016, era, mais uma vez, seu grande rival. Quintana começou aquele Vuelta muito bem e liderava, tentando ganhar tempo de Froome sabendo que perderia tempo na etapa 19 um contra-relógio de quase 40 Km especialidade de Froome. A diferença era de pouco menos de um min, insuficiente para manter a liderança após o contra-relógio, mas na décima quinta etapa o improvável aconteceu: Contador fez um ataque praticamente de bandeira e Quintana foi junto, levando com eles mais alguns companheiros de equipe (Movistar e Tinkoff). Eram mais de 100 Km pela frente e uma chegada ao alto, mas Froome e a Sky foram pegos de surpresa e ficaram para trás na quebra do pelotão, enquanto Tinkoff e Movistar revezavam na frente.
Ao final da etapa, Quintana acabou conquistando o tempo que precisava para vencer a Vuelta, ele terminou em segundo na etapa e a diferença pra Froome, aumentou de 54s para 3’37”. Nairo era mais líder que nunca. Segurou a camisa até o fim e venceu, enfim, Froome, apesar de ter perdido mais de 2 minutos no contra-relógio.
Com a conquista Nairo Quintana se tornou o segundo colombiano a ganhar a Vuelta e o primeiro a conquistar duas grandes voltas.
Em 2017, ao invés de focar no Tour, a prova que faltava, ele caiu na ambição do Double: Giro e Tour. Uma façanha tão difícil que foi realizada poucas vezes, sendo a última em 1998, por Pantani. Mas, em meio a controvérsias, o ano começou bem. Venceu de novo a Tirreno Adriático e já na disputa do Giro, ao vencer a etapa 9, assumiu a liderança geral.
Porém a etapa seguinte, era mais uma vez o seu ponto fraco, uma disputa de contra relógio de 39Kms. Tom Dumoulin, holandês, especialista em contra relógio, venceu com quase 3 min de vantagem em cima de Nairo e, além disso, ainda colocou mais 14s ao vencer a etapa 14, uma escalada ao santuário de Oropa.
Na etapa 16, Dumoulin teve o famigerado episódio da “cagada”. Apesar do pelotão inicialmente esperar, a demora foi tanta e os nervos estavam tão a flor da pele que, depois de alguns ataques, a situação ficou insustentável e decidiram voltar para o ritmo de prova. Nibali ganhou a etapa, mas mesmo com uma recuperação incrível de Dumoulin a diferença entre ele e Quintana caiu para 30s. Logo depois, na etapa 19, Quintana voltava a assumir a liderança, mas com um ITT na última etapa, em Milão, o holandês voou e colocou 1’39” no colombiano, mais que suficiente para ser o campeão do Giro naquele ano e frustrar, assim, a tentativa do Double de Quintana. Foi um duro golpe no moral do colombiano o pressionando ainda mais por uma vitória no Tour, afim de salvar o ano.
Mesmo com toda pressão, no Tour, contra Chris Froome e com um Giro nas pernas, Quintana não foi nem sombra do que se esperava. Froome foi tetra e ainda ganhou a Vuelta no mesmo ano, fazendo o seu double. (mas isso é conversa pra outro dia)
Em 2018, o foco era no Tour, mas a Movistar, que havia contratado o espanhol Mikel Landa, apostou em uma estratégia diferente: “El Tridente”. Ele levariam três líderes para a França para combater o trem Sky. Mas o resultado foi longe do esperado: Nairo ganhou só uma etapa e Geraint Thomas venceu o Tour. Mesmo Froome e Dumoulin, que correram o Giro naquele ano, terminaram acima dos três da Movistar na geral.
Veio a Vuelta 2018 e onde se esperava que Quintana brilhasse, mais uma vez teve uma performance decepcionante, sendo que, mais tarde, Valverde, seu companheiro de equipe, melhor na classificação geral na maior parte da Vuelta acabou se tornando campeão mundial meses depois.
Em 2019, mais uma vez, Quintana mira o Tour. Mas poucos acreditam. Nairo nunca foi um prodígio do ITT, mas parece ter progressivamente piorado com o passar dos anos. Juntando-se a isso a sua capacidade explosiva nas montanhas também aparentemente foi desaparecendo, enquanto mais rivais como Yates e Dumoulin surgiram.
Novas promessas (Angel Lopez, Egan Bernal, Ivan Sosa, Enric Mas..) tem sido mais empolgantes do que ele e somando-se a isso a fama de “rodeiro” faz com que os fãs do “Nairoman” se tornem cada vez menos entusiasmados com o ciclista que já foi considerado “o melhor escalador do mundo”.
Looking back on the best climbs of 2018, check out this stunning late surge by @NairoQuinCo on Stage 7 of @tds. To see the full list of best 2018 climbs also featuring @chrisfroome, @richie_porte & @MarkCavendish click here: https://t.co/A33Q01hzVN pic.twitter.com/Gv3pBvszMg
— Velon CC (@VelonCC) 25 de novembro de 2018