“Estou chocado”, dizia o astro Chris Froome (Sky), pela primeira vez em solo colombiano a fim de participar do Tour da Colombia 2.1, essa semana. Além de Froome, várias equipes de alto calibre trouxeram seus astros para treinar e competir neste mês de fevereiro na Colômbia.
Enquanto Santiago Botero, campeão mundial de contra-relógio em 2002, fazia comentários para a mídia colombiana, o chefe do Team Sky, Dave Brailsford, sentia a tensão no estádio lotado com o público que gritava o nome dos ciclistas e aguardava ansiosamente pela apresentação das equipes.
São décadas de investimento pesado na formação de ciclistas. Muitos argumentam que a genética dos colombianos, acostumados a morar na altitude e a trabalhar nos campos de café, tenham cunhado grandes ciclistas, capazes de sofrer para ganhar o pão, e quando pegavam na bicicleta, era natural ver o desempenho se sobressair frente aos europeus.
Na década de 80, impulsionado pelo crescimento na economia do país, que fazia acordos com os EUA, muitos empresários decidiram começar a levar ciclistas para disputar as grandes provas europeias.
O governo colombiano sempre foi um ator nesse processo ao longo das décadas, inclusive agora, em meio aos rumores de formação de uma equipe World Tour na Colômbia, até o presidente do país,Iván Duque Márquez, esteve presente nas negociações em meio a grandes conglomerados financeiros e chefes de equipe, principalmente da Sky, que vem liderando as apostas na formação da nova equipe.
A década de 70: monstros
A década de 70 é o ponto de partida do moderno ciclismo colombiano. Após vencer a prova de 4mil metros no mundial amador, Martin Rodrigues, conhecido como “Cochise”, foi contratado pela forte equipe Bianchi para ser escalador. “Cochise” foi recebido pelo presidente da Colombia, com a camisa de campeão mundial, ovacionado pela população que, por todos os cantos, comentava sobre seus feitos.
Rodrigues foi um embaixador dos escarabajos na Europa. Múltiplas vezes vencedor da duríssima Vuelta a Colômbia. Ele foi garoto propaganda da Bianchi e um poderoso gregário da equipe, sendo capaz de escalar como poucos e de fazer um contra-relógio potente. As portas se abriram!
A década de 80: um divisor de águas
O primeiro ciclista colombiano a quebrar barreiras, em termos de títulos, foi Luis “Lucho” Herrera, campeão da Vuelta a España de 1987. Ele também venceu a categoria de montanha do Giro em 1989, e do Tour de France em 1985 e 1987. Além disso, ele venceu nada menos do que três etapas em cada um dos Grand Tours. Feitos impressionantes!
Na mesma época, Fábio Parra, companheiro de equipe de Herrera e vindo de uma família que é um celeiro de ciclistas até hoje, venceu etapas no Tour e na Vuelta, sendo várias vezes top 10. Muitos jovens ciclistas foram inspirados a tentar a vida no ciclismo.
O investimento começou a dar certo rápido para os empresários que levavam ciclistas para a Europa e dentro da Colômbia as competições sempre foram acompanhadas de grande público por onde quer que passava.
Modernidade
Com vitórias em Grand Tours, clássicas e voltas de uma semana, o ciclismo latino-americano está muito bem representado pelos colombianos. Considerado o país mais bem sucedido no ciclismo fora da Europa, causando inveja até em gigantes esportivos como os EUA e a Austrália, que, hoje, não chegam nem aos pés do sucesso Escarabajo.
Com a constante geração de talentos, como Egan Bernal, Ivan Sosa, Alvaro Hodeg, Fernando Gaviria e tantos outros jovens colombianos que com pouca idade, já são capazes de vencer grandes provas no circuito mundial.
Outros ciclistas como Nairo Quintana, Miguel “Superman” Lopez, Esteban Chaves e Rigo Uran tentam se firmar como expoentes e embaixadores do esporte.
O país que tanto formou escaladores, já se mostra capaz de gerar grandes ciclistas em todas as modalidades. Talvez a paixão seja apenas o combustível para que tantos jovens sigam seu caminho pelo esporte, sendo reconhecidos por suas famílias e comunidades como sempre foram: lutadores.