Sempre foi muito difícil, o último a tentar foi Alberto Contador, em 2015, e agora com a decisão do colombiano Nairo Quintana em fazer Giro/Tour em 2017, vem a pergunta: será que ele consegue?
Teriam Quintana e a Movistar as qualidades necessárias para vencer as duas? Boa tática, ótima escalada, equipe forte e um bom contra-relógio são características essenciais para vencer as duas.
E ainda, com esse objetivo, eles (Movistar) não facilitarão a vida da Sky/Froome em vencer Tour/Vuelta?
Se Nairo Quintana alcançar tal feito ele será apenas o oitavo ciclista a ganhar os dois Grand Tours no mesmo ano.
Giro/Tour no mesmo ano
Fausto Coppi (1949, 1952)
Jacques Anquetil (1964)
Eddy Merckx (1970, 1972, 1974)
Bernard Hinault (1982, 1985)
Stephen Roche (1987)
Miguel Indurain (1992, 1993)
Marco Pantani (1998)
Quintana foi campeão da Vuelta em 2016, portanto ele poderia vencer na sequencia as três maiores voltas do ciclismo mundial. Seria um grande feito, ele é, sem dúvida, um dos melhores ciclistas do World Tour na atualidade, já foi campeão do Giro d’Italia em 2014 e três vezes terminou no pódio do Tour de France. Então, que chance teria ele de completar o lendário “double”?
Analisando pela história, ela, infelizmente, não está ao lado de Quintana – ninguém vence o Giro/Tour desde Marco Pantani em 1998. O último a tentar foi Alberto Contador em 2015, ele venceu o Giro mas fracassou no Tour, terminando, apenas, na quinta colocação naquele ano. Contador acabou deixando evidente que o curto espaço de tempo entre os dois GT’s prejudica muito a recuperação das pernas. Ainda mais para disputar na sequencia uma prova tão difícil como é o Tour de France.
O programa pré-Giro de Quintana – confirmado por sua equipe, leia aqui – prevê testar suas pernas no Mallorca Challenge, depois na Volta a la Comunitat Valenciana e, logo depois, ao Abu Dhabi Tour. Depois disso ele irá ao Tirreno-Adriatico em março e depois segue para um treinamento de altitude na Colômbia. Ainda antes do Giro ele disputará a Vuelta a Astúrias. Serão 20 dias de corridas antes de encarar os 21 dias do Giro.
Contador quando fez sua tentativa Giro/Tour, em 2015, fez a Ruta del Sol, o Tirreno-Adriatico e a Volta a Catalunya, totalizando 19 dias de corrida.
Pela lógica o Giro não deve ser o problema desde que tudo aconteça normalmente dentro do esperado e, aí, vencendo o Giro, o que realmente fará diferença é a capacidade de recuperação entre os dois Grand Tours. Vencendo o Giro ele terá 3.572 km nas pernas e 34 dias de descanso antes de iniciar o Tour de France.
E não podemos nos esquecer que esses 3.572 Km serão brutais. Será a centésima edição do Giro d’Italia e os organizadores se empenharam em fazer um percurso histórico, serão muitas montanhas sendo que o ponto mais alto da edição (Cima Coppi) será o alto do Stelvio a 2.758 metros de altitude na décima sexta etapa. Mas já na quarta etapa eles terão uma final ao alto do épico Monte Etna.
Resumindo, no Giro teremos cinco etapas de alta montanha antes da chegada a Milão e nem mesmo etapa festiva teremos: a última etapa será um crono individual de 28 quilômetros.
Outro fator que pode pesar na conquista ou não de objetivo é seu companheiro de equipe Alejandro Valverde. Valverde não fará o Giro e terá como objetivo Tour/Vuelta. Como ele correrá o Tour sabendo que correrá a Vuelta depois?
Enfim…depois do Giro teremos o Tour de France que esse ano percorrerá 3.516 km, cobrindo as cinco regiões de montanha da França e novamente as escaladas começarão cedo, já na quinta etapa com chegada em La Planche des Belles Filles, uma subida de 5,9 Km e 8,5% de média.
Portanto, o Tour será exigente desde muito cedo para quem for brigar pela geral, a organização se espelhou no sucesso conseguido pelos organizadores da Vuelta e Giro, que colocaram etapas mais curtas com montanhas desconhecidas, privilegiando atletas que gostam de atacar mais e assim tornar a disputa mais aberta.
Quintana terá que chegar muito bem, descansado, para não sofrer do mesmo mal que Contador em 2015.
É evidente que o colombiano tem reais possibilidades para vencer as duas provas, ele escala como poucos, tem uma equipe forte ao seu redor e melhorou e muito o seu contra-relógio.
Ele já é considerado um dos melhores ciclistas da atualidade, vencedor do Giro em 2014 e da Vuelta em 2016, se conseguir o “double” Giro/Tour em 2017 se tornará um dos maiores da história recente.
E quem deve estar de olho em tudo isso é Chris Froome (Sky) que só não conseguiu o “double” Tour/Vuelta em 2016 exatamente porque Nairo Quintana estava na Vuelta e a venceu.
Quintana será um de seus principais rivais no Tour de France, mas depois do que aconteceu com Contador durante a prova em 2015 e com a improvável possibilidade do colombiano juntar-se a Valverde na disputa da Vuelta, o caminho estaria menos difícil para, finalmente, Froome subir ao lugar mais alto do pódio em ambas as provas e conquistar o “double” Tour/Vuelta.
Froome, caso consiga, será apenas o terceiro homem a vencer Tour e Vuelta no mesmo ano.
Tour/Vuelta no mesmo ano
Jacques Anquetil (1963)
Bernard Hinault (1978)
É claro que nada é simples, apesar da fortíssima equipe Sky para dar todo suporte, para vencer sua quarta camisa amarela Froome terá que se mostrar ainda mais tático e agressivo já que, como dissemos, a disputa pela geral do Tour 2017 tem tudo para ser muito acirrada.
Já a Vuelta, será ainda mais difícil do que foi em 2016 com uma série de subidas épicas.
A única boa notícia, se é que podemos chamar assim, é que caso Froome vença o Tour e venha para tentativa de fazer o “double” vencendo a Vuelta seus adversários devem ser Contador, Valverde e Chaves, não mais Quintana como ano passado.
Então, depois de analisarmos tudo isso fica a dúvida: Nairo Quintana conseguirá fazer “doublê” em 2017 ou ele apenas tornou a vida de Chris Froome mais tranquila, aumentando as chances para que ele, sim, consiga?
A única certeza é que com os dois melhores ciclistas de voltas de três semanas da atualidade, mais Contador, Nibali e tantos outros que estarão nas disputas haverá muito o que se ver durante as 3 grandes voltas nessa temporada.
Ganhar um Grand Tour em 2017 será uma grande conquista tamanha a quantidade de bons ciclistas e a vontade dos organizadores em oferecer percursos que possibilitem novas estratégias e ataques surpresas. Ganhar dois então seria digno de um lugar entre as lenda do ciclismo.
*Foto de capa:
Original: Christophe Ena.
Efeitos: Antonio Centoundici.